quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O espírito da coisa

Um texto de Martha Medeiros


É neste domingo, 25 de dezembro, o dia que nos restou para cultivar o espírito de Natal. Quando as lojas estão fechadas e você não vai ver TV nem ler o jornal
Você sempre pega o espírito da coisa? Geralmente o espírito da coisa é algo que fica subentendido, só as almas atentas conseguem captá-lo. A verdade é que, em um mundo cada vez mais pragmático, é difícil pegar o espírito da coisa, seja que coisa for esta.
O que dizer então do espírito do Natal? Antes ele entrava no ar assim que dezembro se iniciava. O espírito deste mês, para quem foi criança em outros tempos, era de pura magia. O Natal, que demorava tanto para chegar, estava batendo à porta. "Quantos dias faltam, mãe?" "Agora falta pouco, querida". "Quanto?" "Uns 20 dias". "Tudo isso!!!".
Mas a gente sabia que era pouco se comparado à longa espera de um ano inteiro. Em maio, junho, julho, o Natal ainda estava a perder de vista. Natal era o arremate do calendário, era a compensação por tanto estudo e provas na escola, era o prêmio por termos nos comportado bem, era a hora de colocar uma roupa bonita e ter algum desejo atendido, era hora de comer umas delícias diferentes, de rezar, de acreditar em todos os sonhos.
O céu ficava mais azul, as estrelas davam cria e nunca, nunca chovia em dezembro. Então finalmente chegava o dia 24. A empregada era liberada logo depois do almoço, o pai voltava mais cedo pra casa e nenhum moleque reclamava de ir pro chuveiro, até gostava. Já de banho tomado, era hora de esperá-lo. Ele. O verdadeiro Deus de toda criança, Papai Noel.
Hoje mal entra dezembro - e com ele, trovoadas - e os shoppings lotam, o trânsito entope, os filhos pedem coisas caríssimas e ganham antes mesmo da noite feliz. Comprar, comprar, comprar. Você, meio sem grana, faz o que pode. Os outros, meio sem nada, você faz que não vê.
Mas eles estão entre nós: crianças pedindo um lápis de presente, pedindo colchão de presente, sonhando com o primeiro iogurte de suas vidas. E a gente voando de um lado para o outro, sem tempo pra eles.
Isso tudo foi até ontem, quando dezembro acabou. Ao menos este dezembro insensato, ansioso, consumista, ateu, que dura 24 dias febris, onde todos correm, todos estão atrasados, todos têm compromissos inadiáveis. Uma amiga me escreveu no auge do estresse: "Pensar que o próximo será só daqui a um ano é a melhor parte da história".
Antes de começar a contagem regressiva para o próximo, temos hoje. Temos este hiato, o dia 25. Um feriado, um domingo, uma trégua. As lojas estão todas, todinhas, fechadas. Sobrou alguma coisa da ceia para beliscar na geladeira.
Você vai sentir sede de suco natural, de água gelada. Vai colocar música pra tocar, vai vestir uma camiseta limpa. Você não tem nada pra fazer, nenhum motivo pra tirar o carro da garagem, nenhuma razão para procurar vaga para estacionar. Hoje você vai andar a pé, no máximo de bicicleta. Vai falar mais pausadamente.
Não vai ligar a tevê, prometa. Nem sei por que abriu o jornal. Hoje é dia de caminhar devagar, de chinelo ou pés descalços.
Dia de olhar bem fundo nos olhos do porteiro que está trabalhando, do motorista de ônibus que está trabalhando, e desejar a eles um 'Feliz Natal' pra valer. Com sentimento. Um sentimento que não seja medo nem angústia.
Paz.

5 comentários:

Chloe Gianuzzi disse...

Éééé,da pra se ver mesmo que o Natal não é o mesmo de antes.
Ontem mesmo eu tava comentando: Nem mesmo as lampadinhas que enfeitam a casa no mes de Dezembro,faz reviver os Natais que eu já tive.Nem mesmo as luzinhas fazem parecer Natal.
O ruim de tudo isso é que parece que só tende a piorar =/

Beijos

Unknown disse...

Acabou, sinceramente, não vejo conteúdo no natal pagão que vivemos, mas nem as crianças estão felizes, antigamente eu tinha 10 anos e acreditava em Papai Noel, antigamente meus primos tinha 16 (a idade que eu tenho hoje) e acreditavam em papai noel.
Inclusive o Ano Novo, dia Universal da Paz, onde só celebramos a entrada de um ano e esquecemos da paz...

É vou parar por aqui

vou ter que fazer um post sobre isso no meu blog!
uhuehe

beijos
Amo seu blog.

http://issapaz.blogspot.com/

Nanda disse...

nossa,muito tempo mesmo!!!!e amei esse texto.natal hoje em dia está muito capitalista.sao poucas famílias que mantém mesmo o espirito natalino.mas fazer o quê né?
obrigada pela visita ^^
bjs

Nathália E. disse...

A medida que eu fui crescendo, o natal foi perdendo o sentido.
Por culpa minha e dos outros.
Antes eu sentia a magia. Hoje eu fico triste.

Uma pena.

Beijo!

Kamilla Barcelos disse...

Gostei do texto, mesmo eu não gostando de Natal. Talvez eu não goste pelo q foi mesmo relatado no texto, q virou uma data ultra-capitalista! Temos q resgastar essa data!